QUINTA da MELHOR VISTA - Família Marques do Couto
- Carmen Souza Soares Reis
- Feb 5, 2023
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Updated: Jun 5

Beduído, Estarreja - QUINTA DA MELHOR VISTA e sua capela de NS da Conceição
Da família MARQUES DO COUTO de Estarreja descende um importante cidadão da cidade do Porto: o Capitão JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO (1738-1808), que foi Cavaleiro professo da Ordem de São Tiago da Espada, e Administrador e Procurador da Casa e Condado de Avintes. Dele descendem as famílias COUTO ALÃO (de sua filha Ana Felizarda) e SOUZA SOARES (de sua filha Custódia Joana). Ele foi avô materno do meu trisavô o Dr. José Alvares de Souza Soares, cirurgião em Vairão, cujos filhos emigraram para o Brasil.
JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO casou-se na Igreja da Vitória em 30 de abril de 1760, com o nome de JOÃO LUIZ ALÃO. Era filho de DOMINGOS LUIZ e MARIA DA NATIVIDADE, da freguesia de Santo Ildefonso, cidade do Porto, neto paterno de LUIZ COELHO e MARIA DUARTE, da freguesia de Baltar, em Paredes, neto materno de AGOSTINHO MARQUES DO COUTO e LUIZA MARIA, da freguesia de São Martinho de Salreu, em Estarreja.
Esta informação está bem clara: o apelido COUTO foi adotado depois da data do casamento. Em 1760, nem o noivo nem a sua mãe usavam esse apelido. Quanto ao apelido ALÃO, tudo indica que seja uma alcunha.
O assento de casamento de JOÃO LUIZ ALÃO contém duas discrepâncias: 1) a freguesia de origem do avô materno não é Salreu: AGOSTINHO MARQUES DO COUTO nasceu e faleceu na freguesia de BEDUÍDO, em Estarreja; 2) o nome da avó materna, LUIZA MARIA, não consta nos registros da freguesia de Salreu, nem nos registros da freguesia de Beduído, como mãe de nenhuma MARIA batizada no período correspondente ao seu possível nascimento.

A identidade da avó materna de JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO sempre foi um problema para os genealogistas, porque nunca foi encontrada nenhuma LUIZA MARIA que pudesse ter sido a mãe da MARIA DA NATIVIDADE. Além disso, existe outro documento oficial que cita o nome dessa avó como ANA (Carta de Inquirição a favor do Capitão João Luiz do Couto Alão, citada no livro de José Delfim Brochado de Souza-Soares referido no fim desse artigo). Examinei cuidadosamente os registros de várias paróquias de Estarreja e também não encontrei nenhuma ANA que pudesse ter sido mãe da MARIA DA NATIVIDADE.
No entanto, um assento de batismo na freguesia de BEDUÍDO me chamou a atenção: uma menina foi enjeitada à porta de MANUEL DO COUTO, pai de AGOSTINHO MARQUES DO COUTO, e foi batizada em 11 de agosto de 1699 com o nome de MARIA. Nessa altura, Agostinho cursava o 4º ano de Cânones em Coimbra e contava 22 anos. Essa informação é complementada por outro assento paroquial, da freguesia de São João Loureiro, datado de 2 de setembro de 1699, em que o padre identifica a mãe dessa menina enjeitada e batizada na freguesia de Beduído com o nome de MARIA: a mãe se chamava JACINTA, era solteira e morava no lugar da Igreja da freguesia de São João Loureiro. Esse assento não deixa nenhuma dúvida, pois o padre cita o fato da menina ter sido enjeitada à porta de MANUEL DO COUTO, pai de AGOSTINHO MARQUES DO COUTO, alegado pai da criança.
Em vista dessas informações, a minha conclusão é a seguinte: a menina MARIA, filha de JACINTA, é a mesma MARIA DA NATIVIDADE que foi mãe do Capitão JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO. Ninguém poderia saber o nome da sua mãe porque ela enjeitou a filha - simples assim! Tudo indica que MARIA DA NATIVIDADE tenha sido criada pelo Capitão MANUEL DO COUTO e por sua mulher MARIA MARQUES, seus avós paternos. O suposto pai da menina, AGOSTINHO MARQUES DO COUTO, nunca admitiu formalmente a sua paternidade, talvez pelo receio de prejudicar a sua futura rendosa carreira eclesiástica. Esta é a minha conclusão, baseada em quatro documentos. Poderá futuramente vir a ser refutada por quem descubrir outras indicações comprobatórias.
A identidade da avó materna do Capitão JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO permaneceu incerta durante muito tempo, mas nunca houve dúvidas sobre a identidade do seu avô materno. MARIA DA NATIVIDADE, a mãe do Capitão João Luiz, era filha do Dr. AGOSTINHO MARQUES DO COUTO, filho do Capitão MANUEL DO COUTO e sua mulher MARIA MARQUES, nascido em 8 de agosto de 1677 no lugar de Santiais, freguesia de São Tiago de Beduído, e falecido no dia 9 de agosto de 1754 na sua QUINTA DA MELHOR VISTA, na mesma freguesia de Beduído, Estarreja.
AGOSTINHO MARQUES DO COUTO formou-se Bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra e por instancia de um amigo que era parente do Arcebispo Dom Rodrigo de Moura Teles, foi viver para Braga e deu seguimento à Inquirição de Genere que o habilitaria ao lugar de Cônego da Sé de Braga. Teve uma carreira muito bem sucedida e rendosa. Ocupou o cargo de Desembargador da Relação Eclesiástica. Foi Abade reservatório de Santa Maria de Rio Caldo, cargo que trocou por outro mais rentável em Braga. Depois da morte do Arcebispo que o protegia, o Cabido entregou-lhe o governo do Bispado até a posse do novo Arcebispo. Em 1723 foi nomeado Vigário Geral do Arcebispado. Em 1736 renunciou o seu canonicato da Sé Primaz no sobrinho Salvador Marques do Couto, que era seu protegido. Voltou a Estarreja para viver o resto dos seus dias na QUINTA DA MELHOR VISTA, tal como tinha sonhado quando ainda era jovem.
O Dr. AGOSTINHO MARQUES DO COUTO faleceu em 9 de agosto de 1754 na sua QUINTA DA MELHOR VISTA, em Beduído, Estarreja. Ele havia completado 77 anos de idade no dia anterior. Deixou testamento feito em 10 de dezembro de 1738, em que instituiu sua irmã D. Antonia Marques do Couto como herdeira universal. Ela era casada com um primo em 3º grau, o advogado Victoriano Pereira da Cruz, e tinham 5 filhos. Moravam todos com este irmão mais velho, que era mais rico e não tinha constituído família, pois escolhera uma profissão que exigia celibato.
A QUINTA DA MELHOR VISTA era também chamada Quinta de NS da Conceição, pela sua capela sob essa invocação que pertence ao patrimônio artístico do concelho de Estarreja. Nela estão enterrados todos os familares que viveram naquela quinta. Existe um brasão de armas (com o timbre danificado) sobre o pórtico de entrada da QUINTA DA MELHOR VISTA, que foi concedido em 1790 a Antonio Joaquim da Silva Marques Pereira do Couto, um dos netos de Victoriano Pereira da Cruz e D. Antonia Marques do Couto. A QUINTA DA MELHOR VISTA foi vendida por escritura pública de 28-2-1929 pelos descendentes de D. Ana Augusta Pereira do Couto Brandão a Manuel Antonio da Silva de Bastos e seus filhos, sendo um deles, o médico Dr. Licínio Elíseo de Abreu Freire, o último proprietário que consegui identificar.
Não existem provas de que MARIA DA NATIVIDADE tenha tido alguma relação com seu ilustre, ambicioso e bem-sucedido pai, pois nada sabemos sobre a sua infancia e adolescência. Tudo indica que a mesma família que a batizou, também a tenha criado. Seu nome só vai aparecer nos registros paroquiais casamento com DOMINGOS LUIZ. O casal viveu na cidade do Porto, numa casa da Rua do Paraíso, freguesia de Santo Ildefonso, e ali tiveram pelo menos quatro filhos.
Seu filho JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO foi um cidadão importante da cidade do Porto. Foi Capitão de Milícias e Cavaleiro professo da Ordem de São Tiago da Espada, entre outros títulos. Sempre tratou-se à luz da nobreza, acompanhado de pessoas distintas e fidalgos de primeira grandeza da corte. Viveu com sua família na CASA DO PAÇO DE AVINTES, como procurador do seu compadre o Conde de Avintes, Marquês do Lavradio e Vice-Rei no Brasil, Dom Luiz de Almeida Portugal Soares de Alarcão d'Eça e Melo Silva Mascarenhas (1729-1790), que era padrinho de um de seus filhos. Além disso, JOÃO LUIZ DO COUTO ALÃO tinha muitos bens de raiz, entre eles a sua casa de residência na Rua da Ferraria de Baixo no Porto, prédio histórico da freguesia da Vitória, que foi recentemente restaurado de maneira impecável. (Ver o post sobre as Casas da Familia Couto Alão)
O apelido COUTO ALÃO foi adotado pelo Capitão João Luiz depois do seu casamento. Naquela data, ele já usava ALÃO como alcunha (ver a imagem do assento de casamento, acima) mas o apelido COUTO ainda não aparece naquele documento de 1760. A mãe do Capitão João Luiz começa a aparecer como MARIA DA NATIVIDADE DO COUTO nos registros de batismo dos seus netos, a partir de 1775. O apelido COUTO ALÃO foi usado por várias geraçãoes dessa família.
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REFERÊNCIAS:
Arquivo Distrital de Braga. Inquirições de genere dos dignitários da Sé de Braga, vol. 7, fl. 92v.
Arquivo Distrital do Aveiro. Notariais de Estarreja, liv. de 19.9.1753 a 2.2.1755, fls. 109v.-113.
BRANDÃO, Francisco M. Ponces de Serpa - Uma família de Estarreja- Notas genealógicas sobre o ramo materno da família de D. Frei Caetano Brandão, Bispo do Pará e Arcebispo Primaz de Braga. Câmara Municipal de Estarreja: Terras de Antuã - histórias e memórias do concelho de Estarreja, nº 1, Ano 1, 2007, p. 150-153.
FREIRE, Maria Esmeralda - Património artistico do concelho de Estarreja (inventário). Estarreja: Câmara Municipal de Estarreja, 1982, p. 21.
REIS, Carmen Souza Soares - Souza Soares: a saga de uma família portuguesa no Brasil. Porto Alegre: Edição do Autor, 2014, p. 292.
SOTTOMAYOR, Antonio Pedro de - Divagações a propósito de um velho retrato. A Casa da Fontinha. Câmara Municipal de Estarreja: Terras de Antuã - histórias e memórias do concelho de Estarreja, nº 1, Ano 1, 2007, p. 48-51.
SOUZA-SOARES, José Delfim Brochado de - Apontamentos genealógicos das famílias Couto Alão, Souza-Saores e Sam Payo de Queirós. Braga, 1974.
TAVORA, Dr. Arthur Mendes de Almeida Pacheco - Dignitários da Sé de Braga-Primaz dos séculos XVII e XVIII. 1938, p. 20-21.
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Carmen Souza Soares Reis
25 Novembro 2024
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