QUINTA da PENNA e QUINTA da AGRACEIRA em AVINTES - Família Souza Soares
- Carmen Souza Soares Reis
- Jan 15
- 10 min read
Updated: Aug 21
O Lugar do Paço de Avintes foi palco de uma época da vida das famílias Couto Alão e Souza Soares, conforme ficou registrado nos livros paroquiais da freguesia de São Pedro de Avintes. Essas duas famílias, ligadas por casamento, tiveram residência no Lugar do Paço de Avintes nos anos 1700s. Restam poucos vestígios das quintas onde eles viveram: a Quinta da Penna (atual Quinta da Devesa) está muito arruinada e a Quinta do Paço (Casa do Paço) foi destruída por uma construção contemporânea, conforme já descrevi num post anterior desse Blog.


O Lugar do Paço de Avintes deve seu nome ao antigo Paço dos Condes de Avintes, do qual só restam ruínas. É um terreno à beira do rio, que começa no Areinho e sobe pela encosta entre a Rua do Paço e o Caminho de Avintes. Nesse lugar estão localizadas as antigas Quinta do Paço, onde viveu a família Couto Alão, e Quinta da Penna (atual Quinta da Devesa), que foi residência de Manuel Caetano Alvares de Souza, irmão do nosso ancestral Inocêncio Alvares de Souza Soares. Dessa última, ainda restam os edificios arruinados. Da primeira, nada mais pode ser visto: foi envolvida por uma aberração arquitetônica de construção recente. Os portões de entrada dessas duas quintas ainda estão no mesmo lugar: na Rua do Paço, próximos um do outro. Ainda há muito a desvendar sobre a Quinta da Penna (atual Quinta da Devesa) e a sua proximidade com a Quinta do Paço (Casa do Paço) de Avintes.
QUINTA da PENNA (atual QUINTA da DEVESA)
1776-1815
A antiga Quinta da Penna pertenceu a Manuel Caetano Alvares de Souza (1742-1804), o filho mais velho do Capitão Manuel Caetano de Souza (1717-1792), Capitão de Milícias de Castelo de Paiva e conhecido livreiro da cidade do Porto, estabelecido na Rua dos Mercadores, onde criou seus 10 filhos. O mais moço, nosso tetravô Inocêncio Alvares de Souza Soares (1755-1808), foi genro do Capitão João Luiz do Couto Alão e viveu na vizinha Casa do Paço de Avintes.
A presença de Manuel Caetano Alvares de Souza no Lugar do Paço, como residente da Quinta da Penna, está documentada nos assentos paroquiais da freguesia de São Pedro de Avintes em data anterior à presença da família Couto Alão no mesmo lugar. Em 1776 registrou-se o nascimento de um filho de Manuel Caetano Alvares de Souza na sua Quinta da Penna, enquanto a presença dos Couto Alão no Lugar do Paço só aparece nos livros paroquiais de Avintes em 1782.
Não foi fácil localizar essa antiga propriedade, que é atualmente conhecida pelo nome de Quinta da Devesa. Um amigo genealogista da área de Avintes teve a gentileza de consultar mapas locais e me ajudar a concluir que a antiga Quinta da Penna é a atual Quinta da Devesa, uma propriedade que integra o patrimônio histórico de Avintes. O portão de acesso à entrada principal fica na Rua do Paço nº 608, mesmo ao lado da entrada da Quinta do Paço. As duas propriedades são adjacentes.

O nome original dessa quinta centenária deve-se à sua capela, sob a invocação de Nossa Senhora da Penha de França. A estrutura da capela ainda podia ser vislumbrada em 2024, embora já sem a cruz que encimava o seu telhado. Todos os edificios estão muito arruinados. Fotos antigas mostram telhados ainda intactos, mas a realidade atual é outra.

A antiga Quinta da Penna havia de ser uma construção admirável, porque integra o Patrimônio Histórico de Avintes, sob seu novo nome de Quinta da Devesa. Para que uma propriedade integre o Patrimônio HIstórico de uma cidade é preciso que seus edifícios tenham algum valor arquitetônico e que haja nela outros elementos de arte e cultura. Além da Capela de NS da Penha de França, deveria haver outros objetos artísticos ou culturais nessa propriedade, cuja situação atual de abandono e ruína é lamentável.
Existe um cruzeiro de pedra centenário à entrada da casa nº 76 do Caminho de Avintes, vizinha aos fundos da propriedade em questão. Pensei que talvez possa ter pertencido à antiga quinta que se encontra em ruínas. Achei o fato curioso e fotografei, mas não consegui nenhuma informação sobre a proveniência do mesmo.


Manuel Caetano Alvares de Souza foi senhor da Quinta da Penna e tornou-se Fidalgo, por Carta de Brasão de Armas de Nobreza e Fidalguia passada pela Rainha Dona Maria I em 1794 (Cartório da Nobreza, Registos de Alvarás para Brasões, Livro 5, fls. 16v a 18). Tinha residência no Porto e em Avintes e sua presença está documentada em registros paroquiais da ambas localidades.
Ele faleceu no Porto em 1804, mas a Quinta da Penna permaneceu na propriedade da família até pelo menos 1815, quando ali faleceu o seu filho Antonio Caetano (Livro de Óbitos nº 9 da freguesia de Avintes, fls. 56). No assento de óbito consta que a mãe do falecido, Dona Ana Teresa Tomásia, era senhora da Quinta da Penna.
Esta notícia de 1815 é a última referência da presença da família Souza Soares na Quinta da Penna. Não sei quando foi vendida a propriedade, nem a quem. Gostaria muito de saber!
CRONOLOGIA de EVENTOS
Quinta da Penna – Família Souza Soares
1776-1815
17 set 1776 – Batismo de José, filho de Manuel Caetano Alvares de Souza e sua mulher Dona Ana Teresa Tomásia de Souza, na igreja paroquial de São Pedro de Avintes. João nasceu “na quinta de seus pais no lugar do Paço.” Foram padrinhos o Reverendo João Jácome do Lago, Abade da freguesia de São Pedro de Avintes, com procuração do Desembargador José Antonio Pinto Doria e Boto, cavaleiro professo na Ordem de Cristo, Corregedor do Crime na Relação da Cidade do Porto, e o avô paterno Capitão Manuel Caetano de Souza. Testemunha: Manuel Pereira, do lugar do Paço. (José foi o primeiro filho varão e tomou o apelido do avô materno: chamou-se José Tomás da Fonseca.)
25 set 1783 – Batismo de Antonio Caetano, filho de Manuel Caetano Alvares de Souza e sua mulher Dona Ana Teresa Tomásia de Souza, na igreja paroquial de São Pedro de Avintes. Seus pais constam como “assistentes na sua quinta do lugar do Paço.” Foi padrinho o Reverendo João Jácome do Lago, Abade da freguesia de São Pedro de Avintes, e o tio paterno Inocêncio Alvares de Souza Soares.
10 set 1788 – Batismo de Ana (2ª do nome), filha de Manuel Caetano Alvares de Souza e sua mulher Dona Ana Teresa Tomásia de Souza, na igreja paroquial de São Pedro de Avintes. Seus pais constam como “assistentes na sua quinta da Penna.” Foram padrinhos o Padre João Francisco Pereira e Dona Maria Rosa de Souza, tia paterna.
15 mar 1794 – Manuel Caetano Alvares de Souza tem reconhecida sua nobreza e conquista o direito de usar brasão com as armas dos nossos ancestrais Souzas e Ribeiros, de Castelo de Paiva. Carta de Brasão de Armas de Nobreza e Fidalguia passada pela rainha Dona Maria I e registrada no Cartório da Nobreza (Registo de Alvarás para Brasões, Livro 5, fls. 16 v a 18).
22 out 1804 – Morte de Manuel Caetano Alvares de Souza, aos 62 anos, na sua casa da Rua de Santa Catarina, freguesia de Santo Ildefonso, Porto.
27 jun 1815 – Morte de Antonio Caetano, filho de Manuel Caetano Alvares de Souza e sua mulher Dona Ana Teresa Tomásia de Souza. Ele faleceu enquanto “assistente no lugar do Paço, na quinta de sua mãe.” Tinha 32 anos. Suicidou-se com um tiro de espingarda.
QUINTA DA AGRACEIRA
Avintes 1788
Meus tetravós Inocêncio Alvares de Souza Soares (1755-1808) e Custódia Joana do Couto Alão (1760-1800) casaram-se no Porto em 18-7-1785 e foram residir na Quinta de Leirós em Fornos, Castelo de Paiva. Essa quinta secular pertenceu aos Alvares de Souza Soares durante dois séculos, desde 1713 até os primeiros anos do século XX, e já foi objeto de um post deste Blog. O primeiro filho de Inocêncio e Custódia nasceu em 12-6-1787 na Quinta de Leirós.
Em 26-9-1788 seus nomes aparecem num documento oficial: "Prazo que fez o Marquês de Lavradio por seu procurador João Luiz Alão a Inocêncio Alves de Souza Soares e sua mulher Custódia Joana de Santa Rita, de uma leiria de terra de monte no lugar da Graceira no Couto de Avintes, Vila Nova de Gaia." (Nota 440, 4ª serie, fls. 84v a 89).
Pouco depois, Inocêncio e Custódia transferiram sua residência para Avintes e a segunda filha do casal nasceu na Casa do Paço em 6-7-1789. Talvez a concessão do prazo dessa “leiria de terra de monte no lugar da Graceira” ao genro e à filha que se encontravam estabelecidos em Castelo de Paiva tenha sido motivada pelo legítimo desejo do Capitão João Luiz do Couto Alão de ter junto a si ambas as filhas casadas e seus netos que começavam a nascer. Mas ignoro detalhes dessa história...

O emprazamento dessa "leiria de terra de monte" a Inocêncio Alvares de Souza Soares e sua mulher Dona Custódia Joana marca o início da presença do casal Souza Soares em Avintes. Documentos famíliares mencionam seus nomes como proprietários em Avintes, mas a sua presença nessa freguesia esteve sempre ligada à Quinta do Paço, residência de João Luiz do Couto Alão, pai de Dona Custódia Joana e procurador do Conde de Avintes. Por outro lado, não é impossível que tenha sido Inocêncio Alvares de Souza Soares quem construíu a primeira casa da Quinta da Agraceira.
Tive o prazer de visitar a Quinta da Agraceira em maio de 2024, em companhia do primo Francisco Souza Soares da Gama. Não tivemos dificuldade em identificar essa quinta, que conserva o mesmo nome e aparece na internet como propriedade de aluguel. Está localizada em local privilegiado por uma belíssima vista, à Rua da Agraceira 720. O atual proprietário gentilmente nos facultou uma visita à sua casa, que está muito bem conservada e foi ampliada com respeito à arquitetura original. A antiga capela pode datar da época em que viveram nossos ancestrais Inocêncio e Custódia. A localização dessa quinta à beira do rio seria mesmo ideal para o nosso ancestral deslocar-se de barco entre os lugares onde o levava a sua função de Comissário da Real Companhia da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro. Mas não existem provas de que ele tenha construído ali uma casa...
REFLEXÕES e QUESTÕES em ABERTO
A coincidência da presença dos irmãos Manuel Caetano Alvares de Souza (1742-1804) e Inocêncio Alvares de Souza Soares (1755-1808) em Avintes, onde ambos residiram e batizaram filhos, poderia ser devida ao acaso, mas não é provável que seja. Inocêncio Alvares de Souza Soares esteve em Avintes ainda solteiro, em setembro de 1783, quando serviu de padrinho do seu sobrinho Antonio Caetano, e em julho de 1785 casou-se no Porto com Dona Custódia Joana, cujo pai tinha residência na casa vizinha à do seu irmão. Teriam se conhecido por ocasião do batizado, em 1783?
Os terrenos do Lugar do Paço de Avintes pertenciam ao Mosteiro de Paço de Souza. O Conde de Avintes detinha um prazo e pagava o devido foro. Será que a Quinta da Penna, que está localizada nos mesmos terrenos, estaria incluída no mesmo prazo? Se fosse esse o caso, que relação teria Manuel Caetano Alvares de Souza com o Procurador do Conde de Avintes, que se tornaria sogro do seu irmão?
Manuel Caetano Alvares de Souza aparece em Avintes em setembro de 1776 como assistente na Quinta da Penna, quando batizou o seu terceiro filho. Naquela altura, José Luiz do Couto Alão ainda não era procurador do Conde de Avintes, nem tinha residência na Quinta do Paço. O termo "assistente" usado no assento paroquial de 1776 significa que Manuel Caetano Alvares de Souza e sua família assistiam missa na Capela da Quinta da Penna e residiam naquela propriedade. Não especifica se eram proprietários da Quinta da Penna.
Formou-se um parentesco entre Manuel Caetano Alvares de Souza e José Luiz do Couto Alão em 1785, quando Inocêncio Alvares de Souza Soares (irmão de Manuel Caetano) casou-se com Custódia Joana de Santa Rita (filha de João Luiz). Na altura daquele casamento, o Capitão João Luiz do Couto Alão já era procurador do Conde de Avintes e tinha residência na Quinta do Paço.
Inocêncio e Custódia casaram-se em 1785, mas não sei quando ou onde se conheceram. Podem ter se encontrado em Avintes, por ocasião do batizado do sobrinho de Inocêncio, em setembro de 1783. Ou teriam se conhecido no Porto? Ele era morador na Rua dos Mercadores (freguesia da Sé) e ela na Rua da Ferraria de Baixo (freguesia da Vitória). Manuel Caetano Alvares de Souza, irmão de Inocêncio, passou da freguesia de Santo Ildefonso para a freguesia da Vitória em 1774. João Luiz do Couto Alão vivia nessa freguesia desde 1760.
Os nomes de Inocêncio e Custódia aparecem em Avintes em 1788, porque receberam o prazo da “leiria de terra de monte” que tornou-se a Quinta da Agraceira. Em julho de 1789, eles aparecem como assistentes na Quinta do Paço, por ocasião do nascimento da sua filha Genoveva. Desde o seu casamento em 1785, o casal viveu na Quinta de Leirós e ali tiveram seu primeiro filho em julho de 1787. Tudo indica que Inocêncio Alvares de Souza Soares tivesse a intenção de construir uma fábrica de "águas ardentes" na sua Quinta de Leirós, pois o sogro tinha-lhe feito um empréstimo para essa finalidade que nunca se concretizou. Por outro lado, em 1788 o mesmo sogro consegue um emprazamento de terras em Avintes para o jovem casal...
Em 18 de maio de 1790 o Capitão João Luiz do Couto Alão realizou o seu objetivo de ser reconhecido Fidalgo de Cota d'Armas, com direito a usar brasão de armas. O Conde de Avintes faleceu em 2 de maio de 1790, poucos dias antes da consagração social daquele que fora seu Procurador durante dez anos.
No dia 2 de junho de 1791 nasceu na Casa do Paço um filho do Major João Xavier de Oliceira Barros Leite e Dona Ana Felizarda do Couto Alão. Em 22 de julho de 1791 nasceu na Casa do Paço um filho de Inocêncio Alvares de Souza Soares e Dona Custódia do Couto Alão. Esses foram os últimos eventos que atestam a presença da família Couto Alão em Avintes.
No mesmo ano de 1791, Dom António Máximo de Almeida Portugal ascendeu aos títulos de 6º Conde de Avintes e 3º Marquês do Lavradio. Ignoro se ele ou seus procuradores tiveram residência na Quinta do Paço de Avintes.
Para onde foram os Couto Alão e os Souza Soares, ao sair de Avintes?
Em 1793, Dona Custódia Joana do Couto Alão e seu marido Inocêncio Alvares de Souza Soares viveram na freguesia de Santa Clara do Torrão de Entre-Rios. O casal continuou ligado à sua família do Porto, onde ambos faleceram, ela em 1800 e ele em 1808.
Em 1794, Dona Ana Felizarda do Couto Alão e seu marido João Xavier de Oliveira Barros Leite estavam estabelecidos na Casa do Paço de Airão, em Guimarães, onde viveram o resto de suas vidas. Nunca voltaram ao Porto ou a Avintes.
A Quinta da Penna permaneceu na propriedade da família de Manuel Caetano Alvares de Souza até a segunda década do século XIX. O último documento que atesta a presença da família Souza Soares é um atestado de óbito datado de 1815.
São muitas as indagações... Faltam-me elementos para contar essa história por inteiro...
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Carmen Souza Soares Reis
17 Abril 2025

























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