PARQUE SOUZA SOARES - Quem foram seus moradores?
- Carmen Souza Soares Reis
- Aug 20
- 22 min read
Updated: Nov 13
O PARQUE SOUZA SOARES foi fundado em 2 de fevereiro de 1883 pelo meu bisavô JOSÉ ALVARES DE SOUZA SOARES para abrigar a sua família e a expansão do Laboratório Homeopático Rio-Grandense que ele havia fundado em 1874. Meu bisavô comprou 60 hectares de terras inférteis no atual bairro do Fragata e em dois anos transformou-as num verdadeiro oásis de vegetação, que ficou conhecido como PARQUE PELOTENSE. Aberto ao público em 1883, com seus bosques, jardins e avenidas arborizadas, em seguida transformou-se em área de lazer e espaço de socialização da sociedade pelotense.
A função principal do PARQUE SOUZA SOARES, desde a sua fundação, foi abrigar a fábrica de medicamentos e a Família Souza Soares. Assim, os descendentes do fundador do PARQUE SOUZA SOARES tiveram a rara oportunidade de conviver estreitamente, durante várias gerações, com os primos que eram seus vizinhos!

O Estabelecimento Souza Soares foi um empreendimento pioneiro para a sua época: seus empregados desfrutavam de moradia, restaurante, e escola para os filhos (amenidades inusitadas até então). Havia várias casas de moradia na propriedade, a começar pela residência da família do proprietário, que era a sede do estabelecimento. Todas as outras casas foram construídas para abrigar as famílias dos primeiros empregados da fábrica de medicamentos, mas a partir de 1900 serviram de moradia para outras famílias ligadas por parentesco ou amizade com a Família Souza Soares.
O objetivo deste artigo é identificar os moradores de cada uma das casas do Parque Souza Soares, em ordem cronológica, desde a fundação do PARQUE PELOTENSE em 1883 até a venda da propriedade em 1980.
CASA DO DIRETOR DO ESTABELECIMENTO SOUZA SOARES
Casa do Dr. Miguel
A maior casa do PARQUE SOUZA SOARES era a residência do Diretor do Estabelecimento Souza Soares, adjacente ao laboratório, à fábrica e à capela. Foi construída em 1883 para abrigar a família de JOSÉ ALVARES DE SOUZA SOARES e continuou a ser a residência da Família Souza Soares até a venda do imóvel em 1980. Essa casa ficou conhecida como Casa do Tio Miguel pelos parentes Souza Soares e como Casa do Dr. Miguel pelos moradores do bairro do Fragata. Isto porque diversas gerações de pelotenses conheceram o meu avô Dr. Miguel Alvares de Souza Soares como dono dessa casa, já que ele ali viveu quase toda a sua vida, desde 1883 quando o Parque foi inaugurado até a sua morte em 1961, com um breve intervalo entre 1902 e 1908. Meu avô foi uma figura de destaque no cenário político e cultural da cidade de Pelotas e era bem conhecido no bairro do Fragata e adjacências, porque estava sempre à disposição em casos de emergências médicas. Apesar de não ter se formado médico e sim farmacêutico, ele seguiu os passos do seu avô paterno, que foi médico na cidade de Vairão e era chamado Pai dos Pobres, por estar sempre disposto a prestar ajuda médica gratuita a quem precisasse.

1883-1894 - Meus bisavós JOSÉ ALVARES DE SOUZA SOARES e JOANA DA SILVA RAMOS mudaram-se para o Parque com seus três primeiros filhos (ELVIRA, LEOPOLDO e MIGUEL) e mais quatro nasceram na sua casa do Parque (EDUARDO, JOANA, LUZIA e JOSÉ). No dia 1-10-1892 houve o batismo solene dos três filhos menores na Catedral de Pelotas, que contou com a presença da nata da sociedade pelotense. Terminada a cerimônia religiosa, seguiu-se um cortejo de carruagens até a residência da Família Souza Soares no Parque Pelotense, onde houve uma grande festa com música e danças que ficou nos anais da sociedade de Pelotas (a Bibliotheca Pública de Pelotas conserva os jornais da época que descrevem o evento). Dois anos depois, em 29-4-1894, aconteceu uma tragédia: minha bisavó JOANA DA SILVA RAMOS faleceu durante um trabalho de parto, em que os bebês eram gêmeos e também não sobreviveram. Seus 7 filhos ficaram órfãos, estando o menor com apenas 3 anos!

1894-1898 - Com a morte da mãe, a filha ELVIRA assumiu a direção da casa e o cuidado dos seus irmãos menores. Ela foi para Portugal em 1898 para casar-se, levando com ela os irmãos e os empregados. Em 1896 JOSÉ ALVARES DE SOUZA SOARES havia se casado em Portugal com sua prima MARIA d'ASSUMPÇÃO TEIXEIRA LEITE CARDOSO BROCHADO e trouxera a nova esposa para viver na sua casa do Parque, onde nasceu o primeiro filho do casal em 1897. No ano seguinte, coincidindo com a partida da ELVIRA e seus irmãos para Portugal, mudaram-se para uma nova residência na cidade, no andar superior do Estabelecimento Souza Soares à Rua Andrade Neves, esquina de General Netto.
1898-1907 - LEOPOLDO ALVARES DE SOUZA SOARES, o filho mais velho, ficou morando sózinho na casa do Parque desde 1898, quando a nova família do pai mudou-se para a cidade e sua irmã ELVIRA partiu para Portugal com os irmãos menores. Nesse mesmo ano, o irmão MIGUEL já se encontrava em Portugal com a intenção de ingressar na Escola Médica do Porto, por isso foi ele quem conduziu ELVIRA ao altar da igreja de Vila Meã, para casar-se com o Dr. Torquato Brochado, seu primo. MIGUEL voltou para Pelotas em seguida do casamento, porque houve mudança nos planos do pai e ele teve que abdicar do sonho de tornar-se médico. LEOPOLDO ALVARES DE SOUZA SOARES casou-se com MARIETA TALONE LITRAN em 30-12-1899 e trouxe-a para a sua casa do Parque. O pai voltou para Portugal em 1900, LEOPOLDO e MIGUEL assumiram a direção do negócio em Pelotas, e iniciou-se uma nova etapa da vida da família. Entre 1901 e 1907, LEOPOLDO e MARIETA tiveram 5 filhos: MARILIA, MARIETINHA, LEOPOLDINHO, JOANA (faleceu pequena) e OLENKA. Sucessivos desentendimentos entre pai e filho (que eram patrão e empregado) levaram LEOPOLDO a afastar-se do negócio. Abdicou da moradia que usufruía como funcionário e mudou-se com a família para a cidade. Foram depois para Pernambuco.
1908-1966 - Meus avós MIGUEL ALVARES DE SOUZA SOARES e ROSINA SOARES LEITE casaram-se em 13-12-1902 e já tinham 3 filhos pequenos, JORGE, LAURA e ZINA, quando mudaram-se para a casa onde viveriam toda a sua vida. Ali nasceram mais duas filhas: LUZIA e ANGELA (faleceu pequena). LUZIA LEITE DE SOUZA SOARES, minha mãe, viveu sempre nessa casa até o seu casamento em 1938, na Capela de Santa Luzia, com meu pai JOSÉ PIRES REIS. Eu e o meu irmão PAULO somos os únicos netos do Dr. Miguel e da D. Rosina (chamada "Tia Mocinha" pela família). Fomos criados no Rio de Janeiro, mas passávamos as férias de verão na casa dos nossos avós e ali convivemos bastante com todos os moradores do Parque naquela época. A casa dos meus avós era muito frequentada pelos Souza Soares do Brasil e de Portugal, pelos Soares Leite do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Pinheiro Machado, e por muitos amigos. Visitas eram comuns e hóspedes também. Em 1955 meu avô sofreu um golpe financeiro que determinou o declínio e a eventual falência da firma Souza Soares & Irmão. Depois da sua morte em 1961, a casa já estava em condições precárias para habitação, minha avó ROSINA e minha tia LAURA mudaram-se para um apartamento térreo na Rua General Osório, por volta de 1966.



1966-1980 - Por volta de 1966, nossa casa ficou entregue aos cuidados da lavadeira da família que assumiu a posição de caseira, com autorização para ocupar a parte baixa da casa. Na parte alta, ficaram guardados móveis e objetos da família, que seriam impossíveis de transferir para o pequeno apartamento do centro da cidade. A nossa casa do Parque continuou a ser a casa da Família Souza Soares, pois não foi vendida, nem alugada. Após a morte da minha avó e da minha tia, o grande salão da parte alta da casa foi também ocupado pela família da caseira, ficando os móveis e objetos da família armazenados no escritório e nos dois quartos da parte alta da casa. Essa era a situação em julho de 1979, quando ladrões invadiram esses cômodos, roubaram diversos objetos, fizeram uma verdadeira devassa no escritório do meu avô, e vandalizaram a Capela de Santa Luzia, levando suas imagens e alfaias, em diversos caminhões. Esse crime, descrito em detalhes nas páginas 214 a 217 do livro "Souza Soares", gerou imensos dissabores que determinaram a nossa decisão de vender os terrenos que tínhamos herdado no processo de sobre-partilha dos bens da minha bisavó JOANA DA SILVA RAMOS. O lote que tocou aos "herdeiros do filho Miguel" continha as edificações da casa, da capela, do laboratório e da fábrica. Com muito pesar assinamos a venda em 1980, depois que os outros herdeiros já haviam vendido seus lotes ao mesmo comprador, que fez ali uma incorporação imobiliária, onde hoje há diversas ruas com nomes dos nossos parentes. Interessante notar que nada foi construído no terreno do nosso lote, onde havia as edificações. Demoliram todos os edifícios, destruíram tudo que poderia lembrar a iniciativa do meu bisavô (que recebeu o título de Visconde de Souza Soares, do Rei Dom Carlos de Portugal), mas não conseguiram remover as pedras da fundação da casa e da capela, que permancem lá.

PRIMEIRA CASA DA AVENIDA
Casa da Vovó Marieta
A Casa da Vovó Marieta ficava no lado esquerdo da avenida principal, na esquina de uma avenida lateral que ia dar na Estrada Pinheiro Machado. Na minha época de criança, o portão de entrada era encimado por arcos de metal que sustentavam lindas bougainvilleas roxas. Era a única casa construída fóra dos torreões que marcavam a entrada no Parque. Como todas as outras casas, foi construida para servir de moradia para empregados do Estabelecimento Souza Soares e eu não sei quem foram seus primeiros moradores. Meus primos se referiam à Casa da Vovó Marieta quando falavam nessa casa. Poucos tinham conhecido o avô LEOPOLDO, que falecera em 1936. Foi a avó MARIETA quem morou mais tempo nessa casa: desde 1910 até sua morte em 1957.

1900-1908 - Meu avô MIGUEL tinha 18 anos em 1898 quando voltou da uma temporada em Portugal e constatou que a casa onde sempre vivera já não era a mesma. O único morador era seu irmão LEOPOLDO, que trabalhava na cidade e em certos dias até dormia na casa do pai na cidade, caso perdesse o último bonde para o Parque, depois das visitas que fazia à sua noiva. Não havia família nem empregados morando na casa. O ambiente era de tristeza e isolamento. LEOPOLDO casou-se nos últimos dias de 1899 e o meu avô aproveitou a oportunidade para deixar os recém-casados à vontade: mudou-se para esta casa da avenida, que se encontrava desocupada. E ali morava o DR. MIGUEL ALVARES DE SOUZA SOARES quando casou-se com sua prima ROSINA SOARES LEITE em 13-12-1902. Foi aqui que os meus avós começaram sua vida de casados e foi nessa casa que tiveram seus primeiros filhos: JORGE em 1904, LAURA em 1906, e ZINA em 1906. Como Leopoldo e Marieta mudaram-se para a cidade em 1907 e foram depois para Pernambuco, os meus avós mudaram-se para a casa da infância do meu avô no ano seguinte. Naquela altura a família do Dr. Miguel era constituída pelo casal, seus 3 filhos, a minha bisavó Lucrécia (sogra e tia do meu avô) e seus filhos solteiros Glorinha e Eurico (cunhados e primos). Uma curiosidade: a minha avó Rosina, seus irmãos Glorinha e Eurico, e a minha bisavó Lucrécia, foram os únicos membros da nossa família que moraram em 3 casas diferentes do Parque Souza Soares.

1910-1970 - LEOPOLDO ALVARES DE SOUZA SOARES e sua esposa MARIETA TALONE LITRAN voltaram para o Parque depois de uma temporada fóra de Pelotas, quando ele retomou a sua função no Estabelecimento Souza Soares. A casa principal estava ocupada pela família do irmão MIGUEL, pela conveniência dele trabalhar no laboratório adjacente à casa. Portanto, LEOPOLDO, MARIETA e seus filhos MARILIA, MARIETINHA, LEOPOLDINHO e OLENKA ocuparam a casa menor, que ficava fóra dos torreões de entrada na propriedade. Ali nasceram GUILHERME, GILDA, JOSÉ, SONIA, PAULO e MARIA ISABEL. Durante muitos anos foi a Casa do Tio Leopoldo. Em 1936 LEOPOLDO ALVARES DE SOUZA SOARES faleceu de um ataque cardíaco. Naquela altura, quatro de seus filhos já estavam casados e ele já tinha oito netos. Sua morte foi um divisor de águas: a casa outrora tão alegre, com filhos e sobrinhos ainda solteiros, entrou numa outra fase, em que muitos se casaram e mudaram-se do Parque. Anos depois, em 1947, outro fato ocorreu nessa casa e marcou muito a Família Souza Soares: a morte súbita do DR. GUILHERME ALVARES DE SOUZA SOARES, que se encontrava de visita à casa de sua mãe. Outra separação: seus dois filhos pequenos foram morar em Jaguarão com a mãe e os avós maternos. E assim outras sucessivas separações foram acontecendo., até ficarem só a dona da casa com suas duas filhas solteiras. Eu frequentava muito a Casa da Vovó Marieta nas minhas férias no Parque, quando criança e adolescente. A família era grande, filhos e netos estavam sempre de visita, e sempre havia alguma prima para brincar comigo. A Vovó Marieta faleceu em 1957. As tias GILDA e MARIA ISABEL foram as últimas a deixar a casa onde nasceram. Mudaram-se para a cidade na década de 1970, em vista da precariedade em que se encontrava o imóvel àquela altura.

CASA DO ADMINISTRADOR DO PARQUE
Casa da Família Bardou Bento
Na avenida de entrada na propriedade havia duas casas, uma de cada lado dos torreões que marcavam a entrada do propriedade: a da esquerda tinha sido no passado o restaurante que fornecia pensão aos empregados, e a da direita era a casa do Administrador do Parque Pelotense. Não sei quem foram os primeiros administradores do Parque Pelotense, mas sempre soube que a família da minha avó ROSINA SOARES LEITE chegou de Pernambuco por volta de 1890 e moraram nessa casa até a morte do seu pai BERNARDO TEIXEIRA LEITE. Este meu bisavô era primo e cunhado do proprietário do Estabelecimento Souza Soares (que também era meu bisavô), portanto era natural que eu pensasse que ele tivesse abrigado a família da irmã que chegou de Pernambuco com o marido já doente. Muito tempo depois descobri que não se tratou de caridade: BERNARDO TEIXEIRA LEITE trabalhou como Administrador do Parque Pelotense durante 6 ou 7 anos, estando tuberculoso!
1889-1897 - BERNARDO TEIXEIRA LEITE casou-se em Recife em 1872 com sua prima LUCRÉCIA SOARES DE QUEIRÓS, cujo irmão José Delfim Soares de Queirós adotou o nome de José Alvares de Souza Soares, quando imigrou para Recife!. A Família Soares Leite transferiu-se para Pelotas em 1889 com seus cinco filhos: AUGUSTA, AMINA, ROSINA, GLÓRIA e EURICO, após terem perdido uma das filhas em Recife. A filha ROSINA casou-se com seu primo DR. MIGUEL ALVARES DE SOUZA SOARES em 1902 e foram meus avós maternos. Minha avó ROSINA (Tia Mocinha para os meus primos) contava muitas histórias da sua infancia. Sei que ela chegou em Pelotas com 10 anos e as irmãs Soares Leite tiveram um imenso choque cultural, porque tudo era diferente: o clima, a comida, e a fala das pessoas. Naquela época, era como mudar-se de um país para outro! Depois de uma longa enfermidade, BERNARDO TEIXEIRA LEITE faleceu em 1-11-1896 na sua casa no Parque Pelotense, ainda em exercício da sua função de Administrador, o que deve ter contribuido muito para o seu declínio. A viúva LUCRÉCIA SOARES DE QUEIRÓS mudou-se com os filhos para a cidade após o período de luto. Sua filha Augusta casou-se com o comerciante Julio Vieira Villela e ele abrigou toda a família Leite na sua nova casa da Rua Voluntários nº 51. Minha avó morou 5 anos nessa casa no centro da cidade de Pelotas e ali casou-se com seu primo Miguel em 13-12-1902. Depois de casada, voltaria a morar no Parque Souza Soares.

1898-1920 - Ignoro quem morou nessa casa durante esse período. É provável que a casa tenha sido ocupada pelo(s) Administrador(es) seguinte(s) ou talvez por alguma das outras famílias que cito mais adiante, que sei que moraram no Parque mas não tenho certeza em que casa moraram.
1920-1936 - DR. ARMANDO BRASIL DE FREITAS e sua esposa ALICE DA CONCEIÇÃO OLIVEIRA eram amigos da Família Souza Soares e foram morar no Parque quando já tinham a primeira filha, ANGÉLICA (NENÊ) nascida em 1916. Ele era dentista e professor da Faculdade de Odontologia e Farmácia. Meu avô Miguel era professor da mesma instituição e seu colega. Sua esposa D. ALICINHA era neta do Barão da Conceição e fora criada na casa do avô: o sobrado de 3 andares que ainda existe na esquina da Rua Quinze com a Voluntários. A família do Dr. Armando Brasil de Freitas conviveu muito com a Família Souza Soares quando moraram no Parque. A Tia NENÊ e a minha mãe foram grandes amigas desde pequenas. A família mudou-se do Parque para a cidade em 1936, quando o Dr. Brasil já estava muito doente, e foram morar com a filha ANGÉLICA (NENÊ) que tinha se casado com Waldemar de Gusmão, funcionário do Banco do Brasil. O Dr. Brasil faleceu em 1938 e em seguida o casal Gusmão mudou-se para o Rio de Janeiro, levando a viúva D. ALICINHA e a filha adolescente, Tia YARA nascida no Parque em 1924. A Família Freitas de Gusmão continuou muito amiga dos meus pais no Rio de Janeiro. Sua filha Regina Helena foi minha melhor amiga desde a infância e nossa amizade durou até o falecimento dela em 1988, quando eu tinha recém me mudado para os Estados Unidos.
1938-1955 - O Sr. ALBERTO BENTO e sua esposa GEORGETA BARDOU (D. Geta) mudaram-se para o Parque Souza Soares já com 5 filhos: EMILIA BEATRIZ (Mimi), ALVARO ALBERTO, CARLOS ZEFERINO, JORGE ACHYLLES e FABIO LUIZ. Seus 11 filhos seguintes nasceram no Parque: GILBERTO n. 1938, JULIO n. 1939, ISMAEL n. 1940, JULIETA n. 1942, ELIZABETE n. 1944, ROBERTO n. 1945, GEORGETA LUIZA (Getinha) n. 1946, LIGIA n. 1948, PAULO n. 1949, ARTUR n. 1950 e MARIA APARECIDA n. 1954. O Sr. Alberto Bento era sócio proprietário da firma Azevedo & Bento, situada na Avenida Duque de Caxias, no bairro do Fragata. Quando eu conheci essa família, os quatro filhos mais velhos já trabalhavam com o pai. No fim da tarde, sempre à mesma hora, chegava a caminhonete (ou seria um caminhão?) trazendo o pai e os filhos de volta do trabalho. A Família Bardou Bento era muito organizada e as crianças eram muito bem educadas. Todos os Souza Soares gostavam muito deles. Em 1955 a Família Bardou Bento mudou-se para uma casa na Avenida Duque de Caxias. Alguns membros dessa família ainda vivem no bairro do Fragata, outros vivem em outros estados, e alguns já faleceram. Recentemente tive o prazer de entrar em contato com alguns deles e lhes ofereci uma árvore genealógica da Família Bardou Bento. Contei com a preciosa ajuda de alguns filhos e alguns netos do casal. Consegui me comunicar com quase todos que ainda vivem, que são o Jorge, o Julio, a Julieta, a Elizabete, a Getinha, a Ligia e a Maria. Em 2014 tive o prazer de me encontrar com a Julieta, que teve a gentileza de comparecer ao lançamento do meu livro sobre a Família Souza Soares. A surpresa foi grande, mas eu reconheci imediatamente a minha amiguinha de infancia! Depois conheci a Maria pela internet, através da página Antiga Pelotas no Facebook. Foi um imenso prazer. E já que eu fiz a genealogia dessa família, ocorreu-me partilhar um detalhe interessante: descobri que o Sr. Alberto Bento era cunhado de uma prima da Vovó Marieta: Sylvia de Lima Brandão Mangeon era casada com Zeferino Furtado Bento, irmão do Sr. Alberto. Ela era filha de Luiz Mangeon e neta paterna de Henrique Mangeon, o qual era irmão da avó materna da Vovó Marieta, Isabel Mangeon. A Vovó Marieta se chamava Maria Isabel Talone Litran, era filha do pintor espanhol Guilherme Litran e de sua esposa Matilde Mangeon Talone, sendo esta filha de Egídio Talone e Isabel Mangeon. A família Mangeon emigrou da Inglaterra para o Rio de Janeiro. Eu não saberia dizer se o Sr. Alberto Bento alugou essa casa do Parque por haver alguma relação de amizade entre a família Bento e a família da Vovó Marieta (já que eram parentes pelos Mangeon), ou apenas por ser ele morador do Fragata, conhecer o meu avô e o Parque Souza Soares, e saber que aquela casa estava desocupada.

1958-1980 - A prima LYGIA DE SOUZA SOARES E SOARES e seu marido CLEO BIASOLI mudaram-se o Parque por volta de 1958, quando seu filho GUILHERME tinha quase 3 anos. O filho HENRIQUE nasceu no Parque em 1960. A Família Soares Biasoli foi a última que morou nessa casa. Eles se mudaram para a cidade em fevereiro de 1980, pouco antes do falecimento do CLEO, em junho do mesmo ano. O Parque foi vendido nesse mesmo ano de 1980. A prima LYGIA era filha da Tia MARIETINHA e neta do Tio LEOPOLDO e da Vovó MARIETA. Apesar da nossa diferença de idade, fomos muito amigas quando ela era solteira e recém casada. Naquela época havia um grupo muito animado na Família Souza Soares, que gostavam de bailes de carnaval, de festas, de serenatas, e estavam sempre inventando alguma reunião onde havia sempre, obrigatoriamente, música! Minha mãe, a Tia Laura, a família da Tia Sonia, a Tia Bebel, a prima Heloisa, o primo Leopoldo, a prima Lygia e suas irmãs, e alguns amigos de ocasião, nos divertíamos muito nas férias de verão! De todo esse grupo, só restamos eu e a prima Lia, filha da Tia Sonia. Em 2014 eu re-encontrei a prima LYGIA no lançamento do meu livro sobre a Família Souza Soares. Ela já estava com 87 anos e fez questão de comparecer. Não nos víamos há muitos anos e eu fiquei muito contente em revê-la. Ela faleceu em junho passado, aos 98 anos de idade. Seu filho Guilherme Soares Biasoli é quem resta dessa família. O Henrique faleceu em 2021.

CASAS DO FUNDO DA AVENIDA
Casa do Tio Jorge e Casa do Tio Zezé
No fundo da avenida havia um largo, chamado Praça da Abolição (para comemorar o fato do meu bisavô ter se tornado abolicionista e alforriado seus cinco escravos). Ao lado direito dessa praça estava a parte lateral da fábrica de medicamentos e seu portão de entrada de serviço. Ao centro havia uns armazéns, ou depósitos de materiais, e a entrada para uma outra avenida de eucaliptos que ia dar no campo e no açude. E ao lado esquerdo havia um lance de casas geminadas que no passado serviram de moradia para empregados do Estabelecimento Souza Soares. Depois da partida do meu bisavô para Portugal, essas casas estavam desocupadas e foram alugadas para famílias conhecidas dos Souza Soares. Todos os moradores dessas casas conviveram muito com a nossa família e seus laços de amizade estreitaram-se ainda mais. Depois foram ocupadas pelos próprios Souza Soares. No meu tempo de criança, a casa da esquerda era do meu tio Dr. JORGE ALVARES DE SOUZA SOARES e a da direita era do primo JOSÉ ALVARES DE SOUZA SOARES SOBRINHO, que sempre chamei de Tio Zezé, como faziam os seus sobrinhos.

As datas abaixo são aproximadas. Como se trata de duas casas, duas famílias podem ter morado nelas ao mesmo tempo e eu não saberia dizer em qual das casas cada família morou, antes do Tio Jorge e do Tio Zezé.
1920-1936 - ALCIDES AFFONSO DA COSTA e sua esposa D. BRANCA DA CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA moraram no Parque com seu filho MIGUEL AFFONSO DA COSTA, que era violinista e foi muito amigo da minha mãe e das minhas tias até o fim da vida. Elas falavam muito no Sr. Alcides e na D. Branca, que era uma das raras amigas da minha avó. A D. Branca era tia paterna da D. Alice (Alicinha) de Oliveira Freitas, esposa do Dr. Armando Brasil de Freitas, mencionados acima como moradores na Casa do Administrador do Parque. Essas duas famílias moraram no Parque ao mesmo tempo. Havia um membro da família Costa que era famoso em Pelotas: o Sr. MILTON DE LEMOS, pianista e diretor do Conservatório de Música, era genro do casal Affonso da Costa. Sua mulher CONCEIÇÃO faleceu em 1916, no parto da filha ISOLDA, que foi criada pelos avós. Essa família morou no Parque depois dessa tragédia ter acontecido. Apesar de tudo, eram muito alegres e participantes assíduos dos saraus na casa dos meus avós, em que a minha mãe ou a tia Olenka tocavam piano, o Miguel Costa tocava violino e os primos dançavam. Ambas famílias guardaram preciosas memórias daquela época.
1930-1938 MARILIA LITRAN DE SOUZA SOARES e seu marido ANGELO PONTES LEITE casaram-se em 1925 e foram morar em Belém do Pará, terra natal do Tio Angelito. Lá nasceram as minhas queridas primas MARIANGELA em 1927 e REGINA em 1929. O Tio Angelito era professor de Inglês e passou por dificuldades financeiras. Resolveu então tentar a sorte no sul. O arranjo seria benéfico também para a Tia Marília, com duas filhinhas pequenas. Ela só poderia se beneficiar de morar perto da família dela. Sei que eles moraram na casa na esquerda, que mais tarde passou para o Tio Jorge. No Parque nasceu a minha outra querida prima HELOISA em 1930 e depois o FLAVIO em 1932. As 3 filhas da Tia Marialia foram praticamente criadas na casa dos meus avós (onde sua mãe tinha nascido) e foram mimadas e paparicadas de todas as maneiras possíveis e imagináveis pelas suas 3 primas mais velhas: Laura, Zina e Luzia. Foram essas as minhas primas mais amigas, de quem sinto muita falta! A minha mãe ainda era solteira quando a família Leite se mudou para Rio Grande, portanto devem ter se mudado em 1938 ou um pouco antes.
1940-1946 - EDUARDO LARANJA e sua esposa DULCE eram um casal amigo dos meus avós que moraram pouco tempo no Parque, mas eu me lembro muito bem deles. Eram muito amigos da família. Parece que o Sr. Laranja trabalhou na firma com o meu avô, ou teve algum tipo de negócio com a firma, porque seu nome aparece em cartas trocadas entre meu avô e os irmãos. Eles moraram no Parque depois que ele já estava aposentado. Em idade, estariam entre os meus avós e a geração da minha mãe. Esse casal aparece em muitas fotos da família, inclusive numa raríssima ocasião na praia do Cassino, em que a minha avó era parte do grupo praiano!
1938-1955 - Meu tio JORGE ALVARES DE SOUZA SOARES casou-se com ADILIA CORREA FRANCO no dia 30-11-1938 numa cerimonia civil na casa da Família Franco. Desde o noivado, já tinham essa casa do Parque Souza Soares à sua espera e ali passaram sua lua de mel, pois na época ninguém morava na outra casa e o Parque Souza Soares era um lugar imensamente aprazível. Pouco depois, no dia 3-12-1938, assistiram ao casamento dos meus pais na Capela de Santa Luzia. Meus avós casaram dois filhos na mesma semana, com a diferença que um casal foi morar a metros de distancia deles, e o outro tomou um avião e rumou para Porto Alegre, onde já tinham uma casa à sua espera.
Meu tio JORGE ALVARES DE SOUZA SOARES era formado em Farmácia e trabalhava na firma do pai, fazendo o que o seu pai fazia: preparação de medicamentos. A firma entrou em declínio justamente na época em que ele se casou, que coincidiu com a Primeira Grande Guerra. Mais tarde, no derradeiro declínio do negócio, coube a ele a missão de comandar a solvência da firma e indenização dos empregados.
Esses meus tios passavam muito tempo na casa dos meus avós. Tomavam seu café da mnhã em casa, mas almoçavam e jantavam na casa dos meus avós. A certa altura na década de 50 (1955 é uma data aproximada), decidiu-se que o casal se mudaria para a casa grande da família e o Tio Zezé, que tinha 5 filhos e precisava de mais espaço, fez uma reforma que derrubou a divisória e as duas casas se transformaram em uma só. Por muito anos essa foi a situação que eu conheci: meus tios morando com os meus avós. A Tia Adilia cada vez passava mais tempo na cidade, onde trabalhava como professora de inglês, e pernoitava na casa da irmã. Finalmente compraram um apartamento na Rua General Netto e o casal mudou-se para a cidade. Meu tio faleceu subitamente em 20-7-1979, aos 75 anos de idade, no seu apartamento da cidade.
1948-1964 - JOSÉ ALVARES DE SOUZA SOARES SOBRINHO (Zezé) e sua esposa LEDA ALMEIDA DE SOUZA SOARES casaram-se em Porto Alegre e lá tiveram seus primeiros filhos: LEONOR (Nonô) em 1941, JOEL em 1944 e FERNANDO em 1947. Foram morar no Parque Souza Soares em 1947 ou 1948 e ocuparam a casa geminada com a do Tio Jorge. Vieram então os gêmeos SÉRGIO e RUI em 1951. A família Almeida de Souza Soares morou no Parque até 1963 ou 1964, quando mudaram-se para uma casa na Rua Felix da Cunha. A sua casa do Parque foi porteriormente ocupada pelo filho SÉRGIO.

1974-2007 - SÉRGIO ALMEIDA DE SOUZA SOARES e sua esposa JACIRA GOMES viveram na casa onde Sérgio sempre viveu desde criança, desde o seu casamento por volta de 1974. Tiveram 3 filhos: DANIELA em 1975, ETIENE em 1977 e SERGINHO em 1980. Jacira era professora e chegou a diretora de uma escola no Fragata. Foram eles os últimos parentes que moraram no Parque. Esse ramo da família herdou o lote onde estava localizada essa casa e não vendeu todos os seus terrenos, portanto essa casa continuou na família e o Sérgio conseguiu manter ali o seu canil que parece que era rentável o suficiente para garantir o seu sustento. Ele faleceu na sua casa em 2007.
CASAS DA RUA DO RESTAURANTE
Casa do Adriano Gomes
A foto abaixo mostra três casas geminadas que ficavam numa avenida lateral do Parque Souza Soares, ao lado do prédio do Restaurante, e eram ocupadaspor funionários do Estabelecimento Souza Soares. Do lado oposto da rua, na esquina da avenida principal, ficava a casa da Familia Litran de Souza Soares (já descrita como Casa da Vovó Marieta).

Essas moradias eram um lance de 3 casas geminadas. A casa do meio foi sempre ocupada pela família do ADRIANO GOMES, que era primo materno, funcionário, e homem de confiança do meu avô Miguel. Sei que ele começou trabalhando como linotipista, que era a sua profissão, e depois tornou-se responsável pelo setor de Tipografia da fábrica. Entre as minhas memórias de infancia, o Adriano aparece sempre como a pessoa que supervisionava todo o funcionamento da Fábrica do Xarope Peitoral de Cambará. Me lembro muito bem dele: um homem muito alto e forte, cabelo cortado rente, e olhos azuis. Eu o conheci como pessoa de confiança do negócio do meu avô. Não imaginava que eram primos, pois não havia convivência social entre as duas famílias. Muito depois da morte de ambos, através dos meus estudos, foi que descobri que eram primos.
ADRIANO GOMES era filho de VICENTE JOAQUIM GOMES e sua esposa HONORINA DA SILVA RAMOS, uma das irmãs da minha bisavó Joana da Silva Ramos. Sua mãe era, portanto, cunhada do proprietário do Parque Pelotense. Vicente Joaquim Gomes tinha a profissão de encadernador, que não devia render-lhe muito, e sua esposa Honorina teve 10 filhos em 15 anos de casamento. Esses dados sugerem que deviam lutar bastante para sustentar essa grande família. É possível que tenham vindo de Rio Grande em busca de trabalho no negócio do cunhado, que oferecia beneficios sociais raros naquela época: moradia, escola para os filhos etc. Essa é apenas uma hipótese que não pode ser confirmada, pois já não há ninguém que saiba detalhes da história dessa família. O que eu sei é que o Adriano e o seu irmão mais velho viveram em Pelotas e ali casaram-se e tiveram geração. ADRIANO GOMES viveu sempre na sua casa do Parque Souza Soares, onde faleceu aos 75 anos em 4-9-1965. Ele era o avô dos meus primos e amigos de sobrenome ASSUMPÇÃO, que conheceram bem essa casa. Um dos seus bisnetos foi grande amigo do marido de uma minha prima Reis.
Temos aqui o exemplo de um parente que foi funcionário do Estabelecimento Souza Soares, o que é raro! No tempo do meu bisavô, o único parente que trabalhou no seu negócio foi o cunhado BERNARDO LEITE, Administrador do Parque Pelotense entre 1888 e 1896, como já foi descrito no item da casa em questão. Já no século XX, quando o negócio era gerido pelos filhos LEOPOLDO (encarregado da parte comercial: venda dos medicamentos) e MIGUEL (encarregado da parte técnica: fabricação dos medicamentos), alguns primos trabalharam com eles, como o Tio EURICO SOARES LEITE (irmão da minha avó ROSINA, primo do meu avô) e o primo ALFREDO LOURENÇO DE SOUZA (filho da Tia Aninhas e primo do meu avô) e é possível que algum deles tenha morado numa dessas casas geminadas destinadas aos funcionários.
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Aqui termino essa resenha de moradores do Parque Souza Soares, com a impressão de que poderia ter escrito um livro com esse assunto! A escolha de fotografias foi muito difícil por que há muitas de uma casa e quase nenhuma de outra. Mas tive muito gosto em escrever esse artigo, porque viajei de volta ao passado e revivi momentos muito bons da minha vida!
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Carmen Souza Soares Reis - 20 Agosto 2025

























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