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QUINTA da BOA VISTA - Elias Antonio Lopes, parente dos Souza Soares

  • Writer: Carmen Souza Soares Reis
    Carmen Souza Soares Reis
  • Feb 5, 2023
  • 7 min read

Updated: Oct 2

ELIAS ANTONIO LOPES foi uma figura importante na cidade do Rio de Janeiro no fim do século XVIII - início do século XIX. Era um homem riquíssimo, que faleceu solteiro sem nomear herdeiros para a sua enorme fortuna. Interessei-me por esse personagem a partir de documentos relativos à sua herança, em que são citados seus nove sobrinhos, da cidade do Porto. Eles eram filhos de seu falecido irmão JOÃO TEODÓSIO LOPES GUIMARÃES e de sua mulher GENOVEVA ROSA DELFINA, a qual era filha de NICOLAU ANTONIO DE SOUZA SOARES, um dos irmãos do meu tetravô INOCÊNCIO ALVARES DE SOUZA SOARES. Ela viajou para o Brasil em 1814, companhada de ANTONIA DE JESUS MARIA (sua mãe já viúva) e oito filhos menores, para tratar desse importante assunto. Portanto, ELIAS ANTONIO LOPES era cunhado de uma Souza Soares e parte da sua fortuna passou para os sobrinhos-netos de um ancestral meu.


ELIAS ANTONIO LOPES foi um dos mais ricos negociantes do Rio de Janeiro no fim do período colonial. Ele entrou para a História por ter presenteado o Principe Dom João, na sua chegada ao Brasil, com o palácio que havia construído na sua chácara de São Cristóvão. Este palácio, chamado Quinta da Boa Vista, transformou-se na residência oficial da família real no Brasil e hoje abriga o Museu Nacional, que foi recentemente restaurado depois de um terrível incêndio!


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O Príncipe Dom João expressou o seu agradecimento ao generoso comerciante agraciando-o com o título de Comendador da Ordem Militar de Cristo e outras honrarias seguiram-se: Fidalgo Cavaleiro de Sua Magestade por Alvará de 19 de outubro de 1810 (Livro 13º fls. 16 verso) e Deputado da Real Junta de Comércio por Carta de 8 de janeiro de 1812 (Livro 19º fls. 57 verso). Em pouco tempo, ELIAS ANTONIO LOPES foi nomeado Tabelião e Escrivão da Vila de Paraty, Alcaide Mór e Senhor Perpétuo da Vila de São João d'El Rey, Corretor e Provedor da Casa de Seguros da Corte, e Conselheiro do Reino. Todas essas atividades contribuíram para aumentar ainda mais a sua fortuna.

ELIAS ANTONIO LOPES veio de Portugal para ao Rio de Janeiro muito jovem, em data incerta. Em 1792, seu nome já constava nos Almanaques da cidade do Rio de Janeiro como atacadista da Rua Direita, indício de que já prosperava na carreira mercantil. No início do século XIX ele era um dos maiores comerciantes do Rio de Janeiro. O comércio de têxteis indianos e a sua participação no trafico negreiro na costa ocidental e oriental da África tornaram ELIAS ANTONIIO LOPES um próspero e influente negociante. A compra de tecidos indianos servia diferentes propósitos, entre eles servir de moeda de troca na compra de escravos africanos.

As viagens pelo Atlântico e pelo Índico eram um comércio de longa distância, que envolviam altos investimentos financeiros, grandes riscos, e requeriam uma enorme organização: aprontar um navio, providenciar correspondentes e procuradores na Índia, reunir capitais nacionais e estrangeiros, estabelecer uma rede de financiamentos, criar seguradoras... Se o processo fosse bem sucedido, os lucros eram extraordinários, mas eram poucos os que podiam participar deste tipo empreendimento. Os negócios indianos tinham características específicas e exigiam dos agentes mercantis um elevado grau de especialização. ELIAS ANTONIO LOPES pertencia à elite mercantil e era dos poucos que tinham autoridade e competência para realizar negócios que envolviam altos cabedais e conhecimentos precisos sobre o funcionamento do comércio com os indianos. Ele foi bem sucedido e tornou-se imensamente rico.


Após a morte de ELIAS ANTONIO LOPES em 7 de outubro de 1815, sua firma continuou em atividade por mais de um ano, tendo financiado expedições até 1816. O fundo líquido de sua herança importava em 66 contos de réis. No inventário do negociante encontra-se a informação da compra de escravos em Cabinda, realizada a partir do escambo de fazendas têxteis. O inventário dos seus bens confirma que ele era um dos maiores traficantes de escravos na praça mercantil do Rio de Janeiro. O conselheiro possuía uma escravaria composta por mais de 100 escravos, no valor total de mais de 8 contos de réis. Eles exerciam as mais variadas funções que iam desde o cuidado das chácaras ao trabalho em suas embarcações, e eram provavelmente escravos de ganho. Após a sua morte, encontravam-se na sua loja centenas de fardos e pacotes de fazendas indianas devidamente acondicionadas em centenas de fardos e de pacotes, e estavam armazenadas na Alfândega do Rio de Janeiro 140 fardos de fazendas do Malabar no valor total de 46 contos de reis. Uma verdadeira fortuna!


Como ELIAS ANTONIIO LOPES era solteiro e não deixou testamento, a Coroa pretendia ficar com a sua herança. Acontece que ele tinha parentes na cidade do Porto e eles habilitaram-se como herdeiros. Como eu descobri que esses seus parentes eram também meus parentes, resolvi escrever esse post.


ELIAS ANTONIO LOPES (1756-1815) era o filho mais velho do Capitão ANTONIO LOPES GUIMARÃES, cidadão do Porto. Ele foi para o Brasil ainda jovem e fez fortuna como comerciante. Seu irmão ANTONIO JOSÉ LOPES associou-se a ele no Rio de Janeiro, onde faleceu em 4-4-1813 na antiga freguesia de NS do Pilar do Iguaçu (atual bairro do Pilar em Duque de Caxias). Sua única irmã MARGARIDA ROSA ANGÉLICA era casada com ANTONIO JOSÉ MOREIRA GUERRA e vivia no Porto. Havia um outro irmão, JOÃO TEODÓSIO LOPES GUIMARÃES, que falecera no Porto em 30-7-1811, deixando a viúva com 9 filhos menores. A mulher de João Teodósio era GENOVEVA ROSA DELFINA, filha de NICOLAU ANTONIO DE SOUZA SOARES (1752-1793), o qual era irmão do meu tetravô INOCÊNCIO ALVARES DE SOUZA SOARES (1755-1808) e tio paterno do meu trisavô o Dr. JOSÉ ALVARES DE SOUZA SOARES (1795-1849), que foi cirurgião em Vairão. Portanto, GENOVEVA ROSA DELFINA, a cunhada de ELIAS ANTONIO LOPES era prima direita do meu trisavô!


Essa história me foi revelada aos poucos. Começou na época em que eu estava pesquisando, nos Livros de Passaportes portugueses, as datas em que meus bisavós e seus irmãos emigraram para o Brasil. Encontrei lá duas entradas interessantes:

- Data do registo nas Justificações de Passaporte da Companhia do Alto Douro: 16-8-1814. Porto para Brasil. Nome: ANTONIA DE JESUS MARIA, viúva, proprietária, viaja em companhia da filha e de 9 netos, acompanhada de um familiar de nome Vitorino da Silva Monteiro, para tratar de negócios da sua casa.

- Data do registo nas Justificações de Passaporte da Companhia do Alto Douro: 16-8-1814. Porto para Brasil. Nome: GENOVEVA ROSA DELFINA, viúva, proprietária, viaja em companhia da mãe e de 9 filhos, acompanhada de um familiar de nome Vitorino da Silva Monteiro, para sua mãe tratar de negócios da sua casa.


O que me chamou a atenção foi a menção da Companhia do Alto Douro, de que fora Comissário-Geral o meu ancestral INOCÊNCIO ALVARES DE SOUZA SOARES (1755-1808), irmão de NICOLAU ANTONIO DE SOUZA SOARES (1752-1793), pois ambos já haviam falecido em 1814. Fui consultar os meus dados genealógicos para verificar os nomes ANTONIA DE JESUS MARIA e GENOVEVA ROSA DELFINA e confirmar quem eram. Mas ficou por isso mesmo. Fiquei sabendo que a mulher e a filha de Nicolau Antonio de Souza Soares tinham ido ao Brasil para tratar de negócios. E mais nada. Tempos depois, na época da publicação do livro "Souza Soares", recebi uma mensagem de uma pessoa que se identificou como minha parente, e disse descender desse ramo da família do Rio de Janeiro. Como eu não tivesse compreendido bem que Souza Soares eram esses, ela mencionou o nome ELIAS ANTONIO LOPES (que eu nunca tinha ouvido antes) e o seu parentesco com o marido da filha do Nicolau. Fui descobrir quem era, mas o assunto morreu. Eu só voltei a pensar na Quinta da Boa Vista no dia do incêndio do Museu Nacional. Aquela tragédia trouxe o imóvel de volta ao foco da minha mente e eu fiquei pensando em como seria aquela quinta de São Cristóvão quando foi oferecida por Elias Antonio Lopes ao Príncipe Dom João. Fui pesquisar imagens do Rio Antigo e descobri a foto que ilustra esse post.

Vamos recapitular: JOÃO TEODÓSIO LOPES GUIMARÃES, marido de GENOVEVA ROSA DELFINA, faleceu em 1811. Eles moravam no Porto, na Rua do Bonjardim, freguesia de Santo Ildefonso. Os pais dela, NICOLAU ANTONIO DE SOUZA SOARES e ANTONIA DE JESUS MARIA foram proprietários da Quinta das Fontainhas, em Fornos, Castelo de Paiva, onde Nicolau faleceu em 1793 e ali foi sepultado, na Capela de NS da Lapa. Em 1814 a família de Genoveva foi para o Brasil, talvez para pleitear algum tipo de ajuda do seu cunhado rico, o Comendador e Conselheiro ELIAS ANTONIO LOPES. No ano seguinte Elias faleceu. Como era solteiro e não deixou testamento, a Coroa poderia ficar com a herança. Os únicos herdeiros vivos eram MARGARIDA ROSA ANGÉLICA, sua irmã do Porto, e seus sobrinhos, filhos do irmão JOÃO TEODÓSIO LOPES GUIMARÃES, falecido em 1811. Consegui prova de que, em 16-11-1816, MARGARIDA ROSA ANGÉLICA deu entrada em um pedido de habilitação junto ao Juizo das Justificações Ultramarinas, para receber a metade da herança do irmão. O documento incluiu os seus sobrinhos, filhos de JOÃO TEODÓSIO LOPES GUIMARÃES e de GENOVEVA ROSA DELFINA, como herdeiros da outra metade, como era de direito.


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Outros dados:


NICOLAU ANTONIO DE SOUZA SOARES nasceu em 6-12-1752 na Rua dos Mercadores, no Porto. Faleceu em 10-6-1793 na Quinta das Fontainhas, em Fornos, Castelo de Paiva. Casou-se com sua prima ANTONIA DE JESUS MARIA. Eram dois irmãos casados com duas irmãs: seu irmão MANUEL CAETANO DE SOUZA SOARES era casado com ANA TERESA TOMÁSIA, irmã de ANTONIA DE JESUS MARIA.


GENOVEVA ROSA DELFINA nasceu em 30-8-1777 na Quinta das Fontainhas, em Fornos, Castelo de Paiva. Casou-se com JOÃO TEODÓSIO LOPES GUIMARÃES em 2-5-1792 na Catedral do Porto. Ele faleceu em 30-7-1811 na cidade do Porto. Tiveram 9 filhos: JOAQUIM (1794), MARIA (1797), JOÃO (1799), ANA (1800), ANTONIO (1804), JOSÉ ANTONIO (1805), GENOVEVA (1807), ELIAS (1809) e NICOLAU (1811). Esses filhos usaram os apelidos LOPES DE SOUZA ou LOPES E SOUZA.


O filho mais velho ficou em Portugal. Os outros foram viver no Rio de Janeiro em 1814. Um dos filhos, o Alferes JOSÉ ANTONIO LOPES E SOUZA (n. 1805) casou-se em Porto Alegre em 31-1-1831 com MARIA DO CARMO CARNEIRO DA FONTOURA e tiveram descendência. Outra filha, ANA MARIA LOPES (1800-1858) casou-se no Brasil com um SOUTO e faleceu em São Cristóvão, Rio de Janeiro.


Nada mais sei sobre essa família. Quaisquer outras informações serão muito benvindas!

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Carmen Souza Soares Reis

Novembro 2024




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