CASA de VILA NOVA - Famílias Moreira, Teixeira, Monterroio e Lencastre
- Carmen Souza Soares Reis
- Jul 26, 2021
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Updated: Oct 1

CASA DE VILA NOVA - Castelões de Recesinhos
A CASA DE VILA NOVA ainda pertence a descendentes dos seus primeiros proprietários. A família Lencastre tem mantido a propriedade em excelente estado, graças à receita da Sociedade Agrícola e Imobiliária da Casa de Vila Nova, responsável pela produção e comercialização de uma marca de vinho verde iniciada por Luís Lencastre nos anos 1970-1980. A quinta e a empresa mantêm-se na família até hoje, sendo os atuais sócios os irmãos Bernardo, Luísa, Sofia e Filipe. Esta família diz que a sua CASA DE VILA NOVA data do século XII. Sem querer criar disputa com os atuais proprietários, meus parentes distantes, eu gostaria muito de saber mais detalhes sobre a origem dessa casa, que dizem datar do século XII.
Os personagens mais antigos da CASA DE VILA NOVA que eu consegui identificar através de documentos públicos, foram os MOREIRAS que viveram no final do século XV. Eles são os ancestrais mais remotos do meu bisavô Bernardo Augusto Teixeira Leite de Azeredo Monterroio (1848-1896).
Brasões identificam uma família e contam a sua história. Conheci o brasão da família da CASA DE VILA NOVA, que reproduzo abaixo, quando estive na Casa do Fraião em visita ao saudoso primo Dom Julio de Lencastre. Sua filha Anita, autora do desenho, hoje o tem em sua casa. Este brasão indica que a família da CASA DE VILA NOVA constituiu-se a partir da união das famílias Teixeira, Monterroio, Moreira e Azeredo (no 1º quartel as armas dos TEIXEIRA, no 2º as armas dos MONTERROIO, no 3º as armas dos MOREIRA e no 4º as armas dos AZEREDO). Talvez a ordem das armas de cada uma dessas famílias reflita a importância social e econômica que tiveram na formação daquela estirpe, mas não reflete a ordem cronológica dos acontecimentos que formaram a família que conhecemos.

Os MOREIRAS foram ancestrais dos senhores da Quinta de Vila Nova e de muitas outras quintas em Castelões. Felipe MOREIRA e sua mulher Maria MOREIRA viveram no final do século XV. Seus nomes aparecem nos registros paroquiais de Castelões entre os primeiros moradores do lugar de Vila Nova. Eles deixaram a sua quinta como herança para dois filhos: LOPO MOREIRA e GASPAR MOREIRA. Cada um herdou metade da propriedade, mas não houve divisão dos terrenos. É provável que, nas gerações subsequentes, alguns herdeiros tenham comprado a parte de outros, pois a antiga propriedade permaneceu sempre inteira e na posse do mesmo ramo da família.
Em 1529, LOPO MOREIRA casou-se com MARTA TEIXEIRA de SEIXAS. Seu filho LOPO TEIXEIRA de SEIXAS (f. 1619) casou-se com Antonia de Aguiar (f. 1619) e foI pai de MANUEL TEIXEIRA de SEIXAS (f. 1660). Este se casou com MARIA de AGUIAR VIEIRA MONTERROIO (f. 1657) e tiveram PEDRO VIEIRA MONTERROIO (1617-1675), que se casou com Angela Ferraz da Mota (f. 1690), da Quinta de Sais. Eles foram pais de JERÔNIMO TEIXEIRA de AGUIAR MONTERROIO (1660-1702), que se casou em 1687 com MARIA de AZEREDO LOUSADA (1659-1700), de São Lourenço do Douro. Foi nessa ordem que os apelidos das famílias entraram em cena: MOREIRA, TEIXEIRA, MONTERROIO e AZEREDO.
O filho do último casal mencionado foi JOÃO TEIXEIRA de AZEREDO MONTERROIO (1694-1759), que se casou com Joana Maria Rosa (1693-1781) de Vila Real, e daí por diante esses mesmos apelidos paternos repetem-se nos herdeiros da CASA DE VILA NOVA: o filho desse casal, BERNARDO ANTONIO TEIXEIRA de AZEREDO MONTERROIO (1717-1763) casou-se com Ana Angélica de Carvalho Teixeira (1738-1813), do Porto, tiveram BERNARDO ANTONIO JULIO TEIXEIRA de AZEREDO MONTERROIO (1763-1836), que se casou com Maria José Leite de Magalhães Camello (1782-1821), herdeira da Casa do Ribeiro em Oliveira. O meu trisavô JOÃO TEIXEIRA LEITE de AZEREDO MONTERROIO (1812-1852) foi o filho primogênito desse casal e como tal, seria o herdeiro natural da casa de seu pai.


Meu trisavô JOÃO TEIXEIRA LEITE de AZEREDO MONTERROIO perdeu a mãe em 1821 e recebeu como herança testamentária o senhorio da Quinta do Eirô em Castelões, e da Casa do Ribeiro em Oliveira - duas propriedades que pertenciam à família Leite há diversas gerações. Tendo garantida a sua herança materna, João sentiu-se livre para seguir o caminho da sua felicidade pessoal e casou-se com uma moça da sua escolha. Eles formaram a família TEIXEIRA LEITE, que viveu na Quinta do Eirô e na Casa do Ribeiro. A propriedade paterna passou para o seu irmão Rodrigo, que formou a família LENCASTRE, ainda hoje proprietária da Casa de Vila Nova.
Essa história passou-se em Castelões, Vila Meã e arredores, e é conhecida das famílias antigas daquelas freguesias. Bernardo Antonio Julio Teixeira de Azeredo Monterroio (1763-1836) era Senhor da Casa de Vila Nova e tinha grandes planos para seu filho primogênito João, nascido em 1812. A partir de 1830, começou a entrar em contato com as famílias ilustres da região, com objetivo de escolher uma noiva rica para o seu primogênito, herdeiro de Vila Nova. Sua escolha recaiu na filha herdeira de uma das casas senhoriais da região, que não foi do agrado do futuro noivo. Alguns contam que João já tinha interesse numa moça mais bonita, da Casa do Fôfo, mas eu não consegui descobrir quem era. O fato é que João recusou-se a visitar a escolhida do seu pai, ou a receber a visita dela, e criou-se um impasse. Naquela altura, uma desobediência era coisa seríssima, considerada afronta à autoridade paterna. Bernardo Antonio Julio submeteu o filho a um castigo (que varia com quem conta a história, falando-se até em mantê-lo a pão-e-água) para tentar conseguir sua concordância com o pretendido casamento que traria um dote apreciável, quiçá necessário, às finanças da família de Vila Nova. Mas foi em vão: nada conseguiu. O castigo foi relaxado, mas já agora era o João quem não queria sair de casa, nem do seu quarto. Preocupado e talvez um pouco arrependido, Bernardo Antonio Julio abriu seu coração ao seu amigo e compadre, o Dr. Antonio Coelho de Magalhães Queirós, da Casa da Botica, numa conversa que tiveram em Vila Meã. Este senhor tinha 14 filhos e era considerado um homem muito ponderado e experiente com problemas de família. Ele recomendou ao amigo que esquecesse o assunto e incentivasse o filho a sair e se divertir, que o mandasse à sua casa, onde suas sete filhas mantinham um ambiente muito alegre que só podia fazer bem ao rapaz. Foi dito e feito: João seguiu os conselhos do pai e passou a frequentar a Casa da Botica. O que ninguém esperava é que ele fosse se apaixonar por uma das filhas do Dr. Antonio Coelho de Magalhães Queirós! A notícia do namoro de João Teixeira Leite de Azeredo Monterroio com Anna Victoria de Queirós chegou aos ouvidos do senhor da Casa de Vila Nova e imediatamente veio a ameaça: João seria deserdado se casasse com uma moça pobre! A questão do dote passou a ser secundária: a questão principal era a desobediência à vontade do pai. Não deve ter sido uma situação fácil, mas João não demorou muito a tomar a sua decisão. Estava com 24 anos, era herdeiro de duas propriedades maternas e sentia-se em condições de seguir o seu próprio destino. João Teixeira Leite casou-se com Anna Victoria de Queirós em 31 de maio de 1836 no Mosteiro de Mancelos, tendo por testemunhas apenas o pai da noiva, o pároco de Castelões (que era seu parente) e um sacristão.

Qual teria sido a intenção de João ao decidir casar-se em segredo, no Mosteiro de Mancelos? Garantir que não seria impedido? Afrontar o pai com um fait accompli? Ou poupar o pai de maiores dissabores, sabendo-o doente? Tudo é possível. Não vamos saber nunca. Os jovens casaram-se e a vida seguiu seu curso. Bernardo Antonio Julio Teixeira de Azeredo Monterroio faleceu meses depois, em 14 de novembro de 1836, não sem antes fazer testamento em que deserdou seu filho primogênito da Casa de Vila Nova por ele o ter desagradado com o seu casamento!
João Teixeira Leite de Azeredo Monterroio, conhecido como João Teixeira Leite, estabeleceu-se com sua mulher Anna Victoria de Queirós na sua Quinta do Eirô, em Castelões, e tiveram seis filhos entre 1837 e 1851. Ele faleceu em 1852 na Quinta do Eirô. Quase todos os seus filhos emigraram para o Brasil. Um deles foi o meu bisavô Bernardo Augusto Teixeira Leite, que nasceu na Quinta do Eirô, foi criado na Casa do Ribeiro, e casou-se em Pernambuco com sua prima Lucrécia Soares de Queirós (filha de Maria José, irmã de Anna Victoria). Eles foram ancestrais das famílias Leite Villela, Leite Goulart, Leite de Souza Soares, e Quadrado Leite.
A Casa de Vila Nova passou por herança para o sétimo filho: Rodrigo Augusto Teixeira de Azeredo Monterroio (1818-1852). Entre o primogênito João e seu irmão Rodrigo havia quatro irmãs e um irmão, falecido antes do pai. Rodrigo casou-se em 1844 com Anna de Lencastre e Meneses (1809-1883), da Casa de Cabanelas. Tiveram sete filhos entre 1844 e 1853 (o último póstumo). Rodrigo faleceu em 1852, pouco antes de João. Seus filhos usaram os apelidos Teixeira de Lencastre, mas seus netos já não usaram Teixeira. Curiosamente, os atuais proprietários/herdeiros da Casa de Vila Nova são apenas Lencastre: não usam nenhum dos apelidos do brasão da família da Casa que herdaram.
Os eventos que precederam a morte de Bernardo Antonio Julio Teixeira de Azeredo Monterroio não abalaram em nada as relações do meu trisavô João com seus irmãos de Vila Nova. Este fato é comprovado pelos apadrinhamentos: seu primeiro filho JOÃO foi afilhado dos avós maternos da Casa da Botica, mas os seguintes tiveram por padrinhos seus tios paternos da Casa de Vila Nova. MARIA AUGUSTA foi afilhada do tio Rodrigo Augusto Monterroio e sua mulher Ana de Lencastre. GASPAR foi afilhado dos tios Bento Teixeira Leite e Umbelina Teixeira Leite. BERNARDO AUGUSTO foi afilhado do tio Rodrigo Augusto Monterroio e sua mulher Ana de Lencastre. ANTONIO foi afilhado da tia Joaquina Umbelina Teixeira Leite p/p da tia Maria Ernestina Teixeira Leite, sendo padrinho o Padre Antonio da Cunha Correia Montenegro. O último filho foi GONÇALO, cujos padrinhos foram seus tios da Casa da Botica: Gonçalo Tomás de Queirós (Abade de Canaveses) e sua irmã Delfina Emília. Todos os irmãos de João Teixeira Leite foram distinguidos como padrinhos de seus filhos.
Interessante notar que o apelido Monterroio desapareceu entre os netos de Bernardo Antonio Julio: nem os filhos de João, nem os filhos de Rodrigo o usaram. Só foi resgatado nas gerações seguintes: os filhos do saudoso primo Dom Julio de Lencastre, da Casa do Fraião (bisneto de Rodrigo), são Monterroio de Lencastre, atendendo a um pedido de suas tias de Vila Nova. E também as filhas de Augusto Teixeira Leite Cardoso Brochado, da Casa de Ambrães (neto de João), são Monterroio Cardoso Brochado, talvez pela circunstância da sua avó Maria Augusta (filha de João, afilhada de Rodrigo) ter passado parte de sua infancia com o seu padrinho, na Casa de Vila Nova.
A complicada história de João Teixeira Leite atinge igualmente os LENCASTRE da Casa de Vila Nova (Castelões), os MONTERROIO DE LENCASTRE da Casa do Fraião (Castelões), os TEIXEIRA LEITE BROCHADO da Casa do Marmoiral (Vila Meã), os BROCHADO DE SOUZA SOARES da Casa de Santa Cruz (Vila Meã), os MONTERROIO CARDOSO BROCHADO da Casa de Ambrães (Tuías), e quatro famílias que se formaram no Brasil: LEITE VILLELA, LEITE GOULART, LEITE DE SOUZA SOARES, e QUADRADO LEITE, que tem exatamente a mesma origem.
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Carmen Souza Soares Reis
Julho 2021

























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